Toda moda e todo causo são remédios
Evandro Ferreira
O pai estava com a tevê ligada num programa com cenário bonito, cheio de luzes e enfeites e no centro da tela tinha um senhor, já um tanto grisalho, falando umas coisas bonitas com os olhos marejados que marejavam os nossos também – mesmo que eu não entendesse direito o que ele dizia.
Aliás, para mim, menininho de tudo ainda, o que ele dizia nem importava tanto, era o jeito como ele dizia que me fazia querer ouvir. Parecia tanto com o jeito que eu falava e ouvia a pessoas falando que eu pensei: quero ser esse homem aí!
Olha, eu queria aquele poder de contar um causo e levar as pessoas ao riso e, em seguida, com meia dúzia de versos simples, levá-las às lágrimas.
Ora, fazer chorar de tristeza é fácil porque o povo já tem uma lágrima pronta para a tragédia, e a lágrima de alegria costuma ser passageira, porque rir, nesse senhor Brasil, ainda que riso amarelo, a gente toda já descobriu como usar para aplacar a dor. Aquele senhor, não.
Não eram lágrimas ou riso comum que ele provocava. Ele conseguia fazer eram lágrimas e risos de humanidade porque fazia a gente se importar com o matuto, com o bêbado, com o padre, com a professora, com o Joãozinho que azucrinava as vidas do padre e da professora e com quaisquer Malasartes.
Aquele homem que, com o passar do tempo, vi ganhar cabelos cada vez mais branquinhos e ares de avô carinhoso, simplesmente contava nossas histórias. Histórias de gente de verdade que não pode refugar e que acredita que dá para ser feliz.
Obrigado, Rolando Boldrin por cada causo e por cada moda que amenizaram o amargor da ração que essa vida marvada nos obriga a ruminar.
Adeus, meu velho!
Linda homenagem!